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sábado, 5 de fevereiro de 2011

"Cecí" Meirelles

Olá amigos!
Há alguns dias em uma conversa entre eu e dois amigos um deles mencionou uma poesia de Cecília Meireles, aí isso me deu uma nostalgia incomensurável o que me levou a folhear velhas apostilas (não tão velhas assim) de literatura e reviver as aulas da querida professora Lia que nos azucrinava com suas tarefas um tanto "exóticas".
A partir disso encontrei algumas celebres poesias e me recordei de tantas outras desta celebre poetiza que é um exemplo de superação, já que foi a única sobrevivente de quatro irmãos, seu pai faleceu antes de seu nascimento e sua mãe quando a pequena tinha apenas 3 anos. Com 9 anos pôs-se a escrever, e aos 18 publicou a primeira obra: "Espectro" de um total de 50. Diante de tantas perdas não é de se estranhar que suas obras tenham um "q" de nostagia, lamento a perda, e mesmo pessimismo, na minha opinião ela consegue transmitir suas tristezas usando-se de delicadeza e sutileza!


Diante disso quero escrever aqui duas de minhas poesias favoritas:



Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.


Noturno

Quem tem coragem de perguntar, na noite imensa?
E que valem as árvores, as casas, a chuva, o pequeno transeunte?

Que vale o pensamento humano,
esforçado e vencido,
na turbulência das horas?

Que valem a conversa apenas murmurada,
a erma ternura, os delicados adeuses?

Que valem as pálpebras da tímida esperança,
orvalhadas de trêmulo sal?

O sangue e a lágrima são pequenos cristais sutis,
no profundo diagrama.

E o homem tão inutilmente pensante e pensado
só tem a tristeza para distingui-lo.

Porque havia nas úmidas paragens
animais adormecidos, com o mesmo mistério humano:
grandes como pórticos, suaves como veludo,
mas sem lembranças históricas,
sem compromissos de viver.

Grandes animais sem passado, sem antecedentes,
puros e límpidos,
apenas com o peso do trabalho em seus poderosos flancos
e noções de água e de primavera nas tranqüilas narinas
e na seda longa das crinas desfraldadas.

Mas a noite desmanchava-se no oriente,
cheia de flores amarelas e vermelhas.
E os cavalos erguiam, entre mil sonhos vacilantes,
erguiam no ar a vigorosa cabeça,
e começavam a puxar as imensas rodas do dia.

Ah! o despertar dos animais no vasto campo!
Este sair do sono, este continuar da vida!
O caminho que vai das pastagens etéreas da noite
ao claro dia da humana vassalagem!
 






Aprendi com as Primaveras a me deixar cortar para poder voltar sempre inteira.

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